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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Prologo

Escritora: jennifer LaBrecque

Zachary efron olhou para sua amiga de tantos anos, Vanessa Hudgens. Ele tinha as feições tensas e os braços cruzados.
— Então ele a convidou para o baile. Tome cuidado, Vanessa. Bobby não é confiável. Gosta de brincar com o sentimento das garotas.
“O roto falando do esfarrapado”, Vanessa concluiu. Só que nunca ocorreu a Zachary se colocar no lugar dela. E quanto a Bobby... bem, ele não era nada daquilo; apenas apaixonou-se por ela.
— De acordo com você, eles são todos aproveitadores ou algo parecido. Mas não se preocupe. Bobby me convidou para ir ao baile, só ao baile, e não a um motel. — O rosto de Paula enrubesceu ao impulsionar o balanço para a frente, forçando Zachary a recuar. — Para sua informação, só o que ele fez foi me dar um beijo.
Vanessa devia ser a única garota em toda a escola, e talvez em todo o planeta que até então nunca fora beijada. baixa, magra e sem seios, não fazia o tipo que despertava as paixões masculinas. Zachary se autonomeara protetor de sua virtude e, sendo seu melhor amigo, jamais a beijaria. Amigos não se beijam, não é verdade?
E quando Bobby Richmond a abraçou e colou os lábios nos dela, Vanessa encontrava-se pronta. Mas precisava confessar que beijá-lo fora muito sem graça.
Observou Zachary. Mesmo sendo alto e forte, com seus cabelos loiros e olhos azuis como ceú, não era o rapaz mais bonito do colégio, ou o mais atlético, mas mostrava uma aura especial, algo que tia Caroline chamava de charme, ou carisma. E isso Zachary tinha mesmo, tanto que as garotas viviam correndo atrás dele, desde criança.
— Preciso ter uma conversinha com Bobby Richmond.
— Você será um homem morto se fizer isso — Vanessa protestou, impelindo o balanço com mais força. — Não precisa fazer tamanho alarido por causa de um beijo! Tantas meninas engravidando na escola, e eu, até agora, nem sequer tinha sido beijada.
— Vanessa...
Um pequeno susto não faria mal a ele.
— Acalme-se. Não vou ter um bebê, seu bobo. Graças a minha falta de peito e a suas “conversinhas” com os poucos que se atrevem a se aproximar de mim, suspeito que isso jamais acontecerá.
Vanessa acabava de dar a Zachary a oportunidade perfeita para fazer uso daquele seu charme infernal, o mesmo do qual lançava mão para conquistar todas aquelas garotas curvilíneas e avançadinhas, afirmando que o fato de ela não ter peitos não era o que contava. Aguardou que ele falasse, o coração em disparada.
— Você é inocente, Vanessa... não sabe nada a respeito dos homens.
Zachary enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans e olhou para todos os lugares, exceto para a área próxima aos seios dela. Será que falar aquilo o embaraçava? Logo ele, o Rei dos Casanovas?
Seria o que criava aquela tensão desajeitada entre os dois? Não podia ser. Só se Zachary a visse como mais do que amiga.
Envergonhada, Vanessa olhou além dele, para as azaléias desabrochando no jardim perto do portão. Toulouse, um dos inúmeros gatos adotados por tia Caroline, passou pela varanda.
Aos poucos, o pulso de Vanessa se normalizou. Ela se sentia insegura com tantas mudanças. A formatura do colegial, o início da universidade no outono... Zachary continuaria sendo seu amigo? Ou encontraria alguém na faculdade e a esqueceria?
— Claro que sei. Você é um deles. Por sua causa consegui penetrar nesse buraco escuro conhecido como a mente masculina. E por isso que bolei um plano.
Zachary gemeu e correu os dedos pela cabeleira.
— Não me venha com outra de suas idéias mirabolantes.
As estratégias de Vanessa nem sempre davam certo, como naquela experiência científica na quarta série. Mas Zacgary já devia ter superado aquilo. Afinal, seus cabelos ficaram cor-de-rosa tão pouco tempo... apenas dois dias.
— Sabe que não faço nada sem planejar. — Vanessa tinha os próximos dez anos de sua existência planejados, enquanto Zachary ainda tentava decidir que universidade cursar.
— Sim, eu sei, mas algumas vezes é melhor deixar o barco correr.
— As chances de acertar são maiores quando se planeja. — Fitou-o, desafiando-o a discordar.
Naquele momento, a porta da frente se abriu, e tia Caroline, uma jovem mulher muito atraente, saiu para a varanda. Suas duas gatas, Lilly e Millie, seguiram atrás dela.
— Vou ao supermercado. Quero fazer aquele bolo de chocolate que você tanto gosta para sua festa de formatura. Seu tio Frank está trabalhando no estúdio, procure não perturbá-lo.
Nos doze anos em que Vanessa morou naquela casa, aprendeu a não incomodar o tio quando ele esculpia. Tio Frank era um homem gentil, sensível e afetuoso, mas diante de um formão e de uma pedra, se interrompido em seus momentos de criação, transformava-se no Poderoso Hulk.
Lilly passou por entre as pernas de Zachary. Millie encontrou o colo de Paula e lá se instalou.
Caroline soltou a porta, deixando-a bater atrás de si.
— Quer alguma coisa da cidade, meu bem? Ficará para jantar conosco, Zachary?
— Não quero nada, obrigada. — Vanessa, distraída, afagava a cabeça da gata. — É melhor se garantir, Zachary. Parece que seu pai saiu.
Ele não se deu ao trabalho de fitar naquela direção de sua residência.
— Obrigado, aceito o convite.
Zachary não costumava rejeitar um convite como aquele, e Vanessa estava ciente de que seu amigo juntava-se a eles mais pela companhia do que pela refeição. Quase nunca sabia dizer se seu pai e sua mais recente namorada se encontravam em casa.
Caroline parou no último degrau e virou-se para a sobrinha.
— Ah! Lynette ligou esta tarde.
O coração de Vanessa se apertou, como acontecia toda vez que alguém mencionava o nome de sua mãe.
— Ela e Vance não poderão vir para sua formatura. — O tom da voz de Caroline soou como um pedido de desculpas, como sempre acontecia a cada vez que os pais de Vanessa a decepcionavam.
Doze anos atrás, seus pais viajaram com ela de carro da Flórida rumo a Nashville, na época em que eles viviam pulando de cidade em cidade. Só que deixaram a filha com tio Frank, para uma visita de alguns dias e desapareceram. Desde então, Vanessa nunca mais os vira, e perdera a conta das inúmeras vezes em que os pais prometeram vir apanhá-la sem jamais cumprir a palavra.
Seu alívio se misturou à raiva. Alívio por não ter de tornar a vê-los. Raiva por mais uma vez ver-se rejeitada por eles. Manteve a expressão neutra e a entonação firme ao responder:
— Já esperava por isso, tia. Mas agradeço por me avisar.
Caroline parou para colocar os óculos escuros, escondendo seus olhos tristes e solidários.
— Até logo, crianças. Não demoro.
Sua tia jamais esquecia de avisar, desde o dia em que precisara renunciar a seu trabalho como comissária de bordo após a pequena Vanessa, de seis anos, ter entrado em pânico quando ela precisou se ausentar por dois dias.
— É importante fazer planos. E segui-los, claro.
Zachary acomodou-se ao lado dela no balanço, movendo-o de leve. Abraçou-a com afeto, a mão a acariciá-la, naquele gesto tão familiar de conforto.
Também a confortara, doze anos atrás, quando a encontrou chorando no bosque atrás de propriedade, quando Vanessa, por fim, entendeu que os pais não viriam apanhá-la nunca mais. Do mesmo modo como Vanessa o confortou após Zachary ter confessado que sua mãe, alcoólatra, morrera seis meses antes, de tanto beber.
— É uma pena, mas não podemos escolher nossos pais, Vanessa. Porém, os amigos, sim. E eu a escolhi.
Com as lágrimas contidas embaçando sua visão, Vanessa reconheceu a dor nele. Toda vez que seu pai o decepcionava, era como se Zachary tornasse a perder a mãe.
Pousou a cabeça em seu ombro, emocionada. Namorados iam e vinham, amigos eram para sempre.

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